terça-feira, 3 de junho de 2008

Direitos sexuais e reprodutivos

No dia 30 de maio eu e meu colega de trabalho Marcelo Cougo participamos de uma mesa no curso: Paternidade Responsável, este curso é uma iniciativa do Ministério Público, da ONG Brasil sem Grades e secretarias estaduais da Saúde e Educação.

Lá tivemos a oportunidade de expor um pouco da nossa experiência com oficinas sobre a temática sexualidade, enfocando o trabalho com adolescentes, que era o foco do seminário. As palestras geraram bastante discussões sobre o tema, algumas bem polêmicas, mas muito produtivas para (re)pensar a prática cotidiana da abordagem com adolescentes. A maior polêmica se deu em torno da gravidez na adolescência... será que a adolescente tem o direito de engravidar? Como "prevenir"? Como fazer para que os métodos "preventidos" sejam usados? Abordagem profissional, inclusão curricular dessa temática na escola, etc.

Durante o seminário o promotor de justiça e coordenador do centro de apoio operacional dos direitos humanos me realizou a seguinte pergunta "Qual a vantagem de uma gravidez na adolescência?" Resolvi colocar a resposta aqui como uma reflexão aberta a sugestões.

No meu ponto de vista não se trata de vantagens ou desvantagens. Mas sim, de direito à escolha. Tenho um pouco de medo desse discurso de prevenção da gravidez na adolescência quando amparado nos métodos contraceptivos.
Vejo vantagens sim, mas em um trabalho educativo que estimule o empoderamento desses adolescentes, onde eles sejam capazes de questionar-se e escolher o momento de engravidar.
Onde além da oferta de métodos contraceptivos, que é fundamental, exista um trabalho de capacitação dos educadores (professores e trabalhadores de saúde) para que todas as esferas estejam sensibilizadas para tratar dessa temática, com uma escuta efetiva, linguagem adequada e não culpabilizante, para poder acessá-los. Que se pense mais além de simplesmente "prevenir" uma gradidez, através da distribuição de contraceptivos, mas se possa entender porque mesmo conhecendo esses métodos, eles muitas vezes não são utilizado. Penso que devemos buscar respostas para:
Por que as adolescentes engravidam?
Será falta de informação?
Será que foi dificuldade em impor o uso de preservativo?
Será que o uso de drogas fez com que esquecessem de usar camisinha ou tomar a pílula?
ou será que agora ela vai abortar clandestinamente e acabar morrendo como tantas?
ou ainda, talvez, será que essa menina desejou engravidar porque cresceu vendo a sua volta as mulheres engravidando bem jovens, inclusive ela, nasceu quando sua mãe tinha 14 anos.

Isso é uma realidade que enfrentamos, nessas vivências que tivemos por aí, muitas vezes fui questionada como eu, uma mulher de 30 anos ainda não teve filhos, isso é uma raridade nas classes mais pobres. Por isso, defendo a educação como base, na oferta de uma outra possibilidade a estas jovens que simplesmente repetir a história de sua mãe e sua avó, mulheres negras, pobres, sem estudo, muitos filhos, etc. Talvez elas precisem conhecer outras possibilidades, aí talvez elas tenham outas escolhas e, assim como as mulheres de classe mais alta, brancas, com nível superior, bem sucedida profissionalmente, elas também possam ter outras escolhas além de engravidar.

......

Aproveito a temática direitos sexuais e reprodutivos para divulgar a matéria da revista época desse mês, que fala sobre mortalidade materna, uma tragédia na realidade brasileira.
veja +:
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI4930-15280-4,00-ELAS+MORRERAM+DE+PARTO.html

A matéria lembra o caso da Vânia Araújo, feminista, lutadora pelas causas das mulheres, que morreu realizando seu maior sonho, ser mãe. O responsável, o médico, culpado por duplo homicídio. Veja a matéria:
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI5017-15254,00-ELA+LUTAVA+PELOS+DIREITOS+DAS+MULHERES.html